sexta-feira, 11 de abril de 2014

Tsouréki – O Pão doce da Páscoa Grega


Na postagem passada tratei dos ovos vermelhos da páscoa grega (veja AQUI) e não me contive, fui pesquisar mais umas coisinhas sobre a páscoa dos gregos– cuja cultura sempre admirei. Pra minha sorte os gregos sempre têm muitas coisas pra se desvendar.
Descobri um pão de páscoa grego interessante, uma espécie de brioche, e bastante popular por lá. Esse pão da páscoa grega se chama Tsouréki e pra ficar ainda mais tradicional exige a presença dos ovos vermelhos na sua apresentação – o que é bacana pois já passei o preparo deles e agora você já pode preparar essa delícia pra incrementar seu cardápio pascal.


O mais bacana na minhas pesquisa sobre as origens do Tsouréki é que cheguei à conclusão e que a Páscoa é a celebração mais importante para os gregos – mais até que o Natal. E isso é tão verdade que os preparativos para ela começam dois meses antes; e, como no Brasil, a Semana Santa é o auge dessa atividade sobretudo para os preparos gastronômicos. Assim começa a páscoa grega:
De acordo com a tradição Ortodoxa grega, os ovos vermelhos simbólicos na Páscoa são tingidos na Quinta-feira Santa. Assim como também é na quinta-feira Santa que as mulheres também preparam o Tsoureki - o pão doce tradicional da Páscoa.



Na Sexta-feira Santa ou Grande sexta-feira, bandeiras nas casas e prédios do governo são definidos a meio mastro para marcar o dia triste.  Depois há a procissão do Epitáfio de Cristo (o Epitaphio lamenta a morte de Cristo na Cruz com o caixão simbólico, decorados com milhares de flores, tirado para fora da igreja e levado pelas ruas pelos fiéis que seguem até o cemitério, onde todos acendem uma vela para os mortos; então o Epitaphio com seu cortejo retorna à igreja onde os fiéis beijam a imagem do Cristo.



Durante a noite do Sábado Santo (Megalo Savato), as pessoas, vestidas com seus trajes formais, começam a se reunir nas igrejas por 23:00 para os serviços de Páscoa, carregando grandes velas brancas ou lamparinas. Pouco antes da meia-noite, todas as luzes das igrejas são desligadas, simbolizando a escuridão e o silêncio do túmulo. À meia-noite, o sacerdote acende uma vela a partir da Chama Eterna, canta "Christos Anesti" (Cristo ressuscitou, você poderá ouvir no fim deste post) e oferece a chama para acender a vela para as pessoas que estão o mais próximo a ele. Todo mundo passa a chama um para o outro, enquanto o clero canta o canto bizantino Christos Anesti. Então, todo mundo sai da igreja para as ruas. Sinos da igreja tocam continuamente e as pessoas dizem uns aos outros "Christos Anesti", a que a resposta é "Alithos Anesti" (verdadeiramente Ele ressuscitou).



Em seguida, os fiéis vão para casa ou para as casas de parentes e amigos para compartilhar as refeições da Ressurreição. As velas que eles carregam são colocados em cada casa e queimar durante a noite para simbolizar o retorno da Luz para o mundo. A quebra de ovos é um jogo tradicional, onde os adversários tentam quebrar ovos uns dos outros. A quebra dos ovos é utilizado para simbolizar Cristo saindo do túmulo. A pessoa cujo ovo dura mais tempo é garantido boa sorte para o resto do ano.
O dia seguinte, Domingo de Páscoa, é gasto novamente com a família e amigos. A refeição da Páscoa é uma verdadeira festa com um monte de saladas, vegetais e pratos de arroz, pães, bolos, biscoitos, e abundância de vinhos e ouzo. 




O aspecto do Uzo é leitoso quando misturado com gelo ou água
O Uzo (ele também é conhecido por esta grafia) é uma bebida alcoólica grega a base de anis É transparente e incolor, mas fica com aspeto leitoso quando é misturado com gelo ou água. Tradicionalmente é servida com meze Tem uma graduação alcoólica entre os 37º e os 50º. Constitui uma Denominação de Origem protegida, de acordo com as normas da União Europeia. O prato principal na mesa de Páscoa, no entanto, é o cordeiro assado, (muitas vezes entregues valas abertas), e servido em honra do Cordeiro de Deus, que foi sacrificado e ressuscitou na Páscoa.
O tsouréki (lê-se tsuréki, do grego moderno τσουρέκι) é apenas um dos vários pães de festas tradicionais gregas, mas provavelmente o mais conhecido.



Além do tsouréki existem outras variedades de pães de páscoa como a lambrokouloura (λαμπροκούλουρα) (Rosca da Luz) ou do lambrópsomo (λαμπρόψωμο) (Pão da Luz) ou com outros nomes conforme a tradição da região onde são feitos.
O nome tsouréki provém do termo turco corek que que se refere a qualquer tipo de pão feito com massa com o uso de fermento (Cabe aqui uma ressalva, para explicar que, muitos nomes para alimentos usados no grego moderno são provenientes de outras línguas sobretudo o Turco que é usado frequentemente usado por causa dos 400 anos de domínio otomano). A simbologia do pão o deixa mais especial, pois representa a ressurreição de Cristo - onde a farinha ganha vida e se transforma em pão. E, apesar de poder encontrar o Tsouréki durante todo o ano na Grécia, é na Páscoa que o seu significado é ainda mais valorizado.

Sabe-se que o pão simbolizava a vida também na tradição pagã e pode-se encontrar vestígios dessa crença ainda hoje sobretudo quando se observa o costume com caráter religiosos de ofertar pães doces na páscoa para pessoas queridas – tal como ocorre com o pão de coco, aqui no Ceará – já tratamos disso aqui AQUI.
O formato do Pão Doce de Páscoa varia conforme as tradições regionais. O mais conhecido é a trança com ou sem ovo vermelho. As tranças e os nós (outro formato) provêm da época pagã como símbolos para afastamento dos maus espíritos. Conforme o formato que lhes davam antigamente, tinham também diversos nomes: kofínia (κοφίνια - cesto), kalathákia (καλαθάκια - cestinhas), e formatos, vejamos alguns:

Kokona (senhora), koutsouna (boneca)


krios (Aries - carneiro)


kalathaki (cesta)


Pé de Jesus


Cobras enroladas


Na forma de 8



Roscas semelhantes eram feitas na época bizantina, as kolyrides (κολλυρίδες), e eram pães específicos para a Páscoa, em diversos formatos, que tinham no centro um ovo vermelho.



Então sugiro a você, amigos confrades e leitores amigos, que o prepare como manda a tradição: na quinta-feira, véspera da Paixão.

Tsouréki (Tsuréki)
Τσουρέκι

1 kg de farinha de trigo
8 ovos
250 gr de manteiga
2 xícaras de chá de açúcar
100 gr de fermento biológico fresco
1 xícara de chá de leite
½ xícara de chá de óleo
Suco de 2 laranjas
Raspas de laranja
Erva doce
Maxlépi
Mastixa (já falamos dela aqui AQUI )

Preparo: Bata todos os ingredientes exceto a farinha, a manteiga e o óleo no liquidificador. Incorpore os ingredientes batidos à farinha pouco a pouco. Trabalhe a massa adicionando a manteiga e o óleo aos poucos. Deixe descansar até dobrar de volume. Separe a massa em três partes, faça rolos e monte uma trança, coloque ovos vermelhos entre os espaços da trança (a quantidade você escolhe). Deixe descansar novamente até dobrar o volume. Pincele com a gema de ovo batida e asse em forno bem quente até dourar.


Dicas: Quanto mais trabalhada a massa, mais macia fica; Os temperos maxlépi e mastixa são difíceis de encontrar no Brasil. Não há substitutos então, se não tiver, não ponha; Se desejar, polvilhe nozes picadas ou amêndoas em fatias, ou gergelim, ou o que vier à sua cabeça.

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