segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Barmbrack de Halloween


O tempo tem passado tão rápido que, quando me dou por conta, o ano já está se indo... Uma coisa que me faz lembrar dessa pressa do tempo são os pães/bolo (como a colomba, o panetone, o pandoro, o bolo de reis) - eles sempre dão um indicativo das chegadas de celebrações importantes; estão avisando sobre o fim ou o começo de um ciclo novo. Vocês já perceberam isso?

Para a minha curiosidade ficar sossegada eu fui investigar mais sobre esse assunto e descobri que os pães/bolo também estão presentes no Halloween. Sabiam disso? Pois é, encontrei o tradicional Barmbrack, figura célebre do Halloween irlandês e, agora, gostaria de dividir um pouco sobre ele como vocês.


Barmbrack (do gaélico irlandês: bairin Breac), muitas vezes abreviado para brack, é um pão/bolo frutado - normalmente passas e cascas de frutas cítricas - que, literalmente, significa "pão manchado (ou salpicado)". O Barmbrack de Halloween tem uma proximidade como o bolo de reis: tradicionalmente são escondidos nele alguns objetos que são cozidos junto com a massa e que será utilizado como uma espécie de jogo de sorte/adivinhação.

Embora a brincadeira de os doces ou travessuras (trick or treaters) seja uma das características mais vulgarmente caricaturada para se referir ao Halloween, muita gente não lembra que a dará era um festival de colheita celebrado com frutas, nozes e que servia um bom colcannon no jantar (já falei sobre ele AQUI).

O fato é que o Halloween tem suas origens no festival celta pré-cristão de Samhain, celebrado entre 31 de outubro e 1º de novembro, quando se acreditava que os espíritos daqueles que morreram durante o ano anterior eram autorizados a passar para o outro mundo – o nosso mundo dos vivos. Fogueiras eram acesas e presentes de comida e bebida fornecidos para que os espíritos errantes não passassem fome. Mais tarde, o Samhain evoluiu para a comemoração cristã dos mortos no Dia de Todos os Santos e Finados, precedida pela vigília de Halloween - uma noite de festa e diabrura.

A celebração acontecia no final de um período de trabalho árduo para os fazendeiros, já que as tarefas de cuidar do gado, cavar as últimas batatas e empilhar a aveia deveriam ser concluídas até o Halloween. Depois de tanto trabalho, não admira que as pessoas estivessem com vontade de se soltar.

Na Irlanda, o festival marcava o ponto de transição entre o outono e o inverno. O folclore acreditava que esta era uma época em que este mundo e um mundo alternativo de fadas se fundiam, o que nos permitia fazer coisas que normalmente não seríamos capazes de fazer, como adivinhação e ver o futuro.


Em seu livro, The Land of Milk and Honey: The Story of Traditional Irish Food and Drink, Brid Mahon relata uma série de superstições associadas ao festival. «Não se deve colher amoras nem tirar maçãs da árvore porque se dizia que os púca [os duendes do folclore irlandês] cuspiam nelas na noite a seguir ao Samhain. Nos vales de Antrim diziam que o diabo sacudia se tridente e a manta contra essas frutas – o que geraria doenças em quem comesse delas.

No norte de Leinster e em partes do Ulster, a velha tradição de deixar comida para as fadas no Halloween ainda era observada na memória viva. Um prato de champ [purê de batata com cebolinha, manteiga e leite], completo com colher, foi posto no pé de um espinheiro de fada ou espinheiro branco, cujo nome cientifico é Crataegus monogyna, mais próximo ou na entrada da porta ou de um campo, tanto no Halloween quanto na Noite de Finados, 2 de novembro. Isso era considerado por alguns um ritual para os mortos, por outros uma oferenda às fadas.

                              Espinheiro de fada.

Depois da tradicional ceia de colcannon, os jovens brincavam de pegar maçãs em um barril ou bacia com água, ou permitiam que a casca de uma maçã caísse no chão na crença de que ela mostraria a letra inicial do nome de um(a) namorado(a). Um passatempo favorito eram casais namorarem sentados ao redor do fogo contando histórias e assando nozes ... e quase todos os jogos e práticas usados naquela noite tinham a ver com amor e namoro.

Até há relativamente pouco tempo, 1º de novembro era um dia de abstinência, o que explica a falta de carne nos pratos tradicionalmente associados ao Halloween. De acordo com as regras da igreja, nenhuma carne era permitida. Colcannon, bolo de maçã e crustáceos, bem como maçãs e nozes faziam parte da refeição festiva. O colcannon – que consiste em purê de batata e misturado com couve picada ou repolho verde e cebola – era comido mergulhando cada colher em um poço de manteiga, mas era cozido em uma panela com um grande fundo redondo, três perninhas e duas alças em forma de orelha nas laterais – isso te membra um caldeirão de bruxa?




Mas era o Barmbrack - ou Bairín Breac (pão salpicado, como em salpicado com frutas) em irlandês - é um parente próximo do bara brith galês, a grande estrela gastronômica; um pão/bolo simples, mas ricamente frutado que é bem adequado para uma cobertura generosa de manteiga e um excelente acompanhamento para um bule de chá. O sabor especial ficava por conta das frutas utilizadas serem antes embebidas em whisky ou chá, o que confere um sabor rico.

O nome barmbrack está ligado à espuma ou "barm" que sobra após a fermentação da cerveja ou ale, que é misturada com passas especiarias para fazer um pão/bolo pesado e frutado; que, embora seja comido o ano todo, é apenas no Halloween que as adições simbólicas são feitas à mistura, cada uma com um suposto significado de adivinhação para o ano que se inicia.

Os símbolos mais comuns de serem encontrados dentro de um Barmbrack, eram:  uma ervilha, um palito de fósforo, um pedaço de tecido, uma moeda, um dedal e um anel. Destes, os únicos que valem a pena ter são a moeda (previsivelmente um indicador de riqueza) e o anel - mas apenas se você for solteiro e quisesse se casar, já que isso indica um casamento iminente. Se você encontrasse a ervilha, não iria se casar tão cedo, enquanto o palito de fósforo está associado a um casamento infeliz ou disputa; o pano indicaria má sorte e pobreza, e o dedal representa que você ficaria solteirona - todas as previsões bastante sombrias e valeriam por um período de 12 meses, até que o próximo Hallowween surgiisse e outro Bramrbrack como aquele seria feito..

Ainda havia um item mais raro, mas que poderia ainda ser incluído; um broche ou uma pequena medalha religiosa.: neste caso, quem quer que tenha encontrado a medalha provavelmente acabará sendo padre ou freira no futuro – e tornou-se este outro símbolo profético que a maioria deseja evitar.

Durante o final do século XIX, muitas padarias comerciais começaram a vender barmbrack, completo com esses símbolos dentro, mas nos últimos anos existem poucas padarias dispostas a arriscar um litígio em caso de dente quebrado ou engasgamento.

Para se comer um Barmbrack como os antigos irlandeses faziam é fácil: corta-se ele em fatias que devem ser torradas com manteiga e servidas juntamente com uma xícara de chá.

Agora, que tal preparar um Barmbrack para este Halloween? O pulo do gato é prepara-lo com antecedência para deixa-lo maturando os sabores e comê-lo na noite de Halloween. A receita é fácil, veja:

Barmbrack
500 g de farinha de trigo
300 g de leite
60 g de manteiga
85 g de açúcar
30 g de fermento biológico
350 g de passas
60 g de cítricos confitados (opcional)
½ colher de chá rasa de canela
¼ colher de chá rasa de noz moscada
½ colher de chá rasa de sal
1 ovo
500 ml de chá preto forte para demolhar as passas

Preparo: Se começa a ´preparar o chá para colocar as passas de molho. Faz o chá e o coloca ainda quente sobre as passas – deixar ali por, pelo menos, duas horas. Para fazer a massa, misturar a farinha, o fermento o leite e o ovo, amassar bem. Fazer uma bola e colocar numa tigela ou boll untado com azeite para descansar até dobrar de volume. Depois acrescentar o açúcar, o sal, a canela, a noz moscada e misturar. Em seguida colocar a manteiga e misturar bem até obter uma massa lisa e elástica. Só então juntar as passas (que já devem ter sido escorridas) e os cítricos confitados, misturar para distribuir bem as passas; voltar a colocar a massa no boll azeitado e deixar dobrar de volume. Em seguida moldar os pães à gosto e levar para assar em assadeira untada em forno quente a 210º por 50 minutos (os primeiros 15 a 210º e o resto a 200º). 

3 comentários:

  1. Excelente uma aula riquíssima com um assunto muito interessante, não sabia nada desse pào/bolo.Obrigada,um ótimo halloween.

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  2. Que maravilha, como bom ter você Barão em nossas vidas com essas curiosidades sobre as histórias de povos.

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