segunda-feira, 25 de março de 2013

Um bolo à Baco


A mitologia, tão adorada por mim desde muito, hoje resolveu aparecer nos pensamentos para que eu tratasse do meu delírio dionisíaco por bolos. E fez mais que isso... Permitiu-me compreender os poderes de Baco com toda sua ebriedade. Permitiu-me o excesso da mistura de um bolo qu e ficou uma maravilha!
Devo esclarecer que Baco é o equivalente romano de Dionísio – o Deus Grego do vinho, da ebriedade, dos excessos (especialmente os sexuais), da loucura, da natureza e de mais algumas coisinhas... mas eu tenho eu começar pelo começo. Então vamos lá:
Sêmele quando estava grávida exigiu a Júpiter que se apresentasse na sua presença em toda a glória, para que ela pudesse ver o verdadeiro aspecto do pai do seu filho. O deus ainda tentou dissuadi-la, mas em vão. Quando finalmente apareceu em todo o seu esplendor, Sêmele, como mortal que era, não pôde suportar tal visão e caiu fulminada. Júpiter tomou então das cinzas o feto ainda no sexto mês e meteu-o dentro da barriga da sua própria perna, onde terminou a gestação.

A mais bela imagem de Zeus e Semele, de Moreau (1894–1895)
Ao tornar-se adulto, Baco apaixona-se pela cultura da vinha e descobre a arte de extrair o suco da fruta. Porém, a inveja de Juno levou-a a torná-lo louco a vagar por várias partes da Terra. Quando passa pela Frígia, a deusa Cíbele cura-o e o instrui nos seus ritos religiosos. Curado, ele atravessa a Ásia ensinando a cultura da vinha. Quis introduzir o seu culto na Grécia depois de voltar triunfalmente da sua expedição à Índia, mas encontrou oposição por alguns príncipes receosos do alvoroço por ele causado.
O rei Penteu proíbe os ritos do novo culto ao aproximar-se de Tebas, sua terra natal. Porém, quando Baco se aproxima, mulheres, crianças, velhos e jovens correm a dar-lhe boas vindas e participar de sua marcha triunfal. Penteu manda seus servos procurarem Baco e levá-lo até ele. Porém, estes só conseguem fazer prisioneiro um dos companheiros de Baco, que Penteu interroga querendo saber desses novos ritos. Este se apresenta como Acetes, um piloto, e conta que, certa vez velejando para Delos, ele e seus marinheiros tocaram na ilha de Dia e lá desembarcaram.
Na manhã seguinte os marinheiros encontraram um jovem de aparencia delicada adormecido, que julgaram ser um filho de um rei, e que conseguiriam uma boa quantia em seu resgate. Observando-o, Acetes percebe algo superior aos mortais no jovem e pensa se tratar de alguma divindade e pede perdão a ele pelos maus tratos. Porém seus companheiros, cegados pela cobiça, levam-no a bordo mesmo com a oposição de Acetes. Os marinheiros mentem dizendo que levariam Baco (pois era realmente ele) onde ele quisesse estar, e Baco responde dizendo que Naxos era sua terra natal e que se eles o levassem a até lá seriam bem recompensados. Eles prometem fazer isso e dizem a Acetes para levar o menino a Naxos. Porém, quando ele começa a manobrar em direção a Naxos ouve sussurros e vê sinais de que deveria levá-lo ao Egito para ser vendido como escravo, e se recusa a participar do ato de baixeza.

Baco, de Leonardo da Vinci, no Museu do Louvre.
Baco percebe a trama,em seguida olha para o mar entristecido, e de repente a nau pára no meio do mar como se fincada em terra. Assustados, os homens impelem seus remos e soltam mais as velas, tudo em vão. O cheiro agradável de vinho se alastra por toda a nau e percebe-se que vinhas crescem, carregadas de frutos sob o mastro e por toda a extensão docasco do navio e ouve-se sons melodiosos de flauta. Baco aparece com uma coroa de folhas de parra empunhando uma lança enfeitada de hera. Formas ágeis de animais selvagens brincam em torno de sua figura. 

O jovem Baco (1884) de William-Adolphe Bouguereau
Os marinheiros levados à loucura começam a se atirar para fora do barco e ao atingir a água seus corpos se achatavam e terminavam numa cauda retorcida. Os outros começam a ganhar membros de peixes, suas bocas alargam-se e narinas dilatam, escamas revestem-lhes todo o corpo e ganham nadadeiras em lugar dos braços. Toda a tripulação fôra transformada e dos 20 homens só restava Acetes, trêmulo de medo. Baco, porém, pede para que nada receie e navegue em direção a Naxos, onde encontra Ariadne e a toma como esposa. Cansado de ouvir aquela historia, Penteu manda aprisionar Acetes. E enquanto eram preparados os instrumentos de execução, as portas da prisão se abrem sozinhas e caem as cadeias que prendiam os membros de Acetes. Não se dando por vencido, Penteu se dirige ao local do culto encontrando sua própria mãe cega pelo deus, que ao ver Penteu manda as suas irmãs atacarem-no, dizendo ser um javali, o maior monstro que anda pelos bosques. Elas avançam, e ignorando as súplicas e pedidos de desculpa, matam-no. Assim é estabelecido na Grécia o culto de Baco. Certa vez, seu mestre e pai de criação, Sileno, perdeu-se e dias depois quando Midas o levou de volta e disse tê-lo encontrado perdido, Baco concedeu-lhe um pedido. Embora entristecido por ele não ter escolhido algo melhor, deu a ele o poder de transformar tudo o que tocasse em ouro. Depois, sendo ele uma divindade benévola, ouve as súplicas do mesmo para que tirasse dele esse poder.







A Bacanal de Peter Paul Rubens

Foi justamente a partir das influencias de Baco que surgiu a Bacanal (do latim bacchanale) é o nome que se dava, na Roma Antiga aos rituais religiosos em homenagem a Baco (ou Dionísio), deus do vinho, por ocasião das vindimas, em que havia um cerimonial sério e contrito, de início, seguido por uma comemoração pública e festiva.
As bacanais foram introduzidas em Roma e vindas do sul da península itálica através da Etrúria. Eram secretas e frequentadas somente por mulheres durante três dias no ano. Posteriormente, os homens foram admitidos nos rituais e as comemorações aconteciam cinco vezes por mês. Ao invadirem as ruas de Roma, dançando, soltando gritos estridentes e atraindo adeptos do sexo oposto em número crescente, os bacanais causaram tais desordens e escândalos.
Tito Lívio relata que a rápida propagação do culto no qual ocorriam as mais grotescas vulgaridades, bem como todo tipo de crimes e conspirações políticas nas suas sessões noturnas, levou em 186 a.C. à promulgação de um decreto pelo Senado - o chamado Senatus consultum de Bacchanalibus, inscrito numa placa de bronze descoberta na Apúlia, ao sul da península Itálica em 1640, atualmente no Kunsthistorisches Museum de Viena - pelo qual as bacanais foram proibidas em toda a Itália, exceto em certos casos especiais que deviam ser aprovados pelo Senado. Apesar do severo castigo infligido aos que descumprissem este decreto (Tito Lívio afirma que houve mais execuções do que encarceramentos), as bacanais sobreviveram no sul da Itália, muito depois da repressão.


Spaldin descreve uma bacanal feita "pelas mulheres que participavam dessas festas corriam pelas ruas e pelos campos, à noite, seminuas, cobertas com peles de tigre ou pantera, fixadas na cintura com festões de hera e pâmpanos. Empunhavam o Tirso, algumas com os cabelos soltos carregavam fachos. Aos gritos de Evoi! Evoi! (origem do grito carnavalesco Evoé!), em honra de Evan, epítetos de Baco, soavam as flautas e tambores juntamente com os címbalos e as castanholas presas às vestes. Dava-se às mulheres que participavam das Bacanais o nome de Menades, voz grega, que significa "furiosas". As fontes antigas descrevem que as bacantes, no seu delírio, cometiam toda sorte de excesso selvagem, luxurioso e desregrado.


Com todo este enunciado o mais correto seria não ser prudente com os excessos nos momentos de comer e beber. Mas este post de hoje é apenas uma simples recadinho para aqueles que gostam de harmonizar vinho com tudo – e vou colocar em texto grifado pra não correr o risco de alguém passar por ele despercebidamente:

Quando eu quero tomar vinho com uma sobremesa, eu sigo os instintos dionisíacos e fujo dos vinhos “tradicionais” que, geralmente, especialistas e afins oferecem como melhor harmonização para sobremesas. Eu em geral, costumo usar com sobremesas os vinhos de colheita tardia - chamados de Late Harvest., pois as uvas utilizadas no preparo destes vinhos ficam no pé por mais tempo, e ao que me parece deixam o vinho mais doce. Para mim, os vinhos tintos tradicionais não caem muito  bem com doces, mas são ótimos  para o preparo deles. O que já deixa a sobremesa com opções mais  exclusivas de vinho. E eu adoro uma exclusividade. Se alguém não concordar com isso- tudo bem O que importa é que eu estou me permitindo novas experiências...


E pra deixar esse papo ainda mais repleto pelos excessos, o negócio  é fazer uma sobremesa que mistura, chocolate com vinho. Quero ver o circo pegar fogo logo (risos). Provavelmente vai ter gente reclamando dessa mistura, ma so resultado final é surpreendente. E vale a pena testar. Baco te chama. Arrisque-se.



Bolo de chocolate e vinho

Ingredientes

240 g de manteiga;
240 g de açúcar;
4 ovos;
300 ml de vinho tinto
240 g de farinha de trigo peneirada;
1 pitada de noz-moscada;
1 pitada de canela em pó;
2 colheres (sopa) de cacau em pó;
1 colher (sopa) cheia de fermento químico;
130 g de chocolate amargo ralado.

Calda
100 ml de água;
60 g de açúcar;
250 ml de vinho tinto.

Preparo: Pique a manteiga e espere até que ela atinja a temperatura ambiente. leve-a à batedeira junto com o açúcar e misture até obter uma pasta lisa. Adicione os ovos e continue batendo para que a massa fique homogênea. Acrescente o vinho tinto, misturando levemente com um batedor manual. Junte a farinha peneirada e bata até obter uma massa lisa. Adicione as especiarias, o cacau e o fermento de uma vez só, batendo tudo à mão. E acrescente o chocolate ralado. Despeje a massa numa fôrma média de furo no meio e leve ao forno a 170 °c /180 °c por aproximadamente 1 hora. Atenção: seja religioso com a temperatura. Quando o bolo é alto e com furo no meio, ele demora mais tempo para assar, e o forno quente demais acaba queimando a parte de cima. Calda: Em uma panela, aqueça a água e o açúcar, misturando até ficar homogêneo. Desligue o fogo e adicione o vinho. Espere até atingir a temperatura ambiente. Jogue a calda no bolo ainda morno e deixe esfriar para servir.


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