quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Bolo-Rei: simbologia e tradição

Impossível falar dos doces natalinos sem citar o majestoso Bolo Rei, com a sua forma de coroa, cheio de frutas cristalizadas e frutos secos (amêndoas, nozes e pinhões), e ainda com a fava e o brinde. 
 Este bolo está repleto de tradição e simbologia. E sintetizando esta simbologia pode-se dizer que este doce representa os presentes oferecidos pelos Reis Magos ao Menino Jesus. A côdea (a parte exterior do bolo) simboliza o ouro; já as frutas secas e as cristalizadas representam a mirra; por fim, o incenso está representado no aroma do bolo.

 A explicação para a existência da fava no interior no bolo rei está ligada a uma lenda, segunda a qual quando os Reis Magos viram a Estrela de Belém que anunciava o nascimento de Cristo, disputaram entre si o direito de entregar ao Menino os presentes que levavam. Como estes não conseguiam chegar a um acordo, um padeiro, para pôr termo à discussão, propôs fazer um bolo com uma fava no interior da massa, em seguida, cada um dos três magos do  Oriente pegaria numa fatia, o que tivesse a sorte de retirar a fatia que possuísse a fava, ganharia o direito de entregar os presentes a Jesus. Não se sabe qual foi contemplado com a fatia premiada, pode ter sido qualquer um dos três, Baltasar, Belchior ou Gaspar.

É claro que isto é só uma lenda, o Bolo Rei tem, na verdade origens francesas como verão em de seguida.
 A receita do Bolo Rei correu mundo, muito contribuiu para isso a fama que o bolo ganhou de proporcionar prosperidade a quem comesse a fatia que possuísse a fava. Contudo, dita a tradição que quem receber a fatia com a fava, tem de oferecer o Bolo Rei no ano seguinte.

Os romanos costumavam votar com favas, prática introduzida nos banquetes das Saturnais, durante as quais se procedia à eleição do Rei da Festa, também chamado Rei da fava. Diz-se que este costume teve origem num inocente jogo de crianças, muito frequente durante aquelas festas e que consistia em escolher o rei, tirando-o à sorte com favas.
A Fava
O jogo acabou por ser adaptado pelos adultos, que passaram a utilizar as favas para votar nas assembléias. Como aquele jogo infantil era característico do mês de Dezembro, a Igreja Católica passou a relacioná-lo com a Natividade e, depois, com a Epifania, ou seja, com os dias 25 de Dezembro e 6 de Janeiro.
A influência da Igreja na Idade Média determinou a criação do Dia de Reis, simbolizado por uma fava introduzida num bolo, cuja receita se desconhece.
De qualquer modo, a festa de Reis começou muito cedo a ser celebrada na corte dos reis de França. O bolo-rei teria surgido no tempo de Luís XIV para as festas do Ano Novo e do dia de Reis. Vários escritores escrevem sobre ele, e Greuze celebrou-o num quadro, exatamente com o nome de Le Gâteau des Rois. Com a Revolução Francesa , em 1789, este bolo foi proibido. Só que os confeiteiros tinham ali um bom negócio, e em vez de o eliminarem, passaram a chamar-lhe Gâteau des sans-cullottes.

Epiphany (Le gâteau des rois) - Jean-baptiste Greuze

Em Portugal, depois da proclamação da República, não chegou a ser proibido, mas andou lá perto. Com exceção desse mau período, a história do bolo-rei é uma história de sucesso, e hoje como ontem as confeitarias e pastelarias não se poupam a esforços na sua promoção
Com isto parece não haver dúvidas que o Bolo Rei tem verdadeiras origens francesas, apesar do Bolo Rei popularizado em Portugal no século passado não ter a ver com o bolo simbólico da festa dos reis existente na maior parte das províncias francesas a norte do rio Loire, na região de Paris, onde o bolo é uma rodela de massa folhada recheada de creme.
O nosso Bolo Rei segue a receita a sul de Loire, um bolo em forma de coroa feito de massa leveda. Acrescenta-se que ambos os bolos continham uma fava simbólica, podendo ser um objeto de porcelana. Tanto quanto se sabe, a primeira casa onde se vendeu Bolo Rei em Portugal foi em Lisboa na Confeitaria Nacional, por volta do ano de 1870, bolo esse feito pelo afamado confeiteiro Gregório através duma receita que Baltazar Castanheiro Júnior trouxera de Paris.
Durante a Quadra Natalícia a Confeitaria Nacional oferecia aos lisboetas uma exposição de tudo quanto de mais delicado e original a arte dos doces podia então produzir. Pouco a pouco, outras confeitarias também passaram a fabricá-lo o que deu origem a várias versões.
No Porto foi posto à venda pela primeira vez em 1890 por iniciativa da Confeitaria Cascais feito segundo receita que o proprietário Francisco Júlio Cascais trouxera de Paris.
Assim o Bolo Rei atravessou com êxito os reinados da Rainha D. Maria II e dos reis D. Pedro, D. Luis, D. Carlos e D. Manuel II. Vieram depois o Estado Novo de Salazar e Marcelo Caetano e a Revolução de 25 de Abril de 1974.
Mas foi com a proclamação da República em 5 de Outubro de 1910 que vieram os piores tempos para o Bolo Rei ficando em risco a sua existência, tudo por causa da palavra “rei”, símbolo do poder supremo que numa lógica de hoje nos faz rir. Ora morto este símbolo, o bolo tinha que desaparecer ou mascarar-se para evitar a guerra que lhe podia ser feita.
Os confeiteiros partiram do principio de que negócio é negócio e política é política e continuaram a fabricar o bolo sob outra designação.
Os menos imaginativos deram-lhe o nome de ‘ex-bolo rei’, mas a maioria chamou-lhe bolo de Natal ou bolo de Ano Novo. A designação de bolo Nacional seria a melhor, uma vez que remetia para a confeitaria que o tinha introduzido em Portugal, e também por estar relacionado com o país o que ficava bem em período revolucionário.

Não contentes com nenhuma destas idéias os republicanos mais radicais chamaram-lhe bolo Presidente até houve quem he chamasse bolo Arriaga.
Não se sabe como reagiu o Presidente da República, mas convenhamos que a homenagem não tivesse sido a melhor.
Passado esse período negro, a história deste bolo tem sido um sucesso.
A receita do Bolo Rei correu mundo, muito contribui para isso a fama que o bolo ganhou por proporcionar expectativa a quem comesse a fatia que continha a fava ou o brinde.
A fava, amaldiçoada pelos sacerdotes Egípcios que a viam como alojamento para os espíritos, é considerada como um elemento negativo, representando uma espécie de azar, tendo quem a encontra duas opções: Assumir o pagamento do próximo bolo ou correr perigo de engoli-la. Por sua vez o brinde era colocado no bolo com o objetivo de presentear os convidados com quem se partilhava o bolo.
Havia quem colocasse nos bolos pequenas adivinhas complicadas por sinal, mas cuja recompensa seria meia libra de ouro. Porem outros incluíam propositadamente as moedas de ouro na massa, por uma forma requintada de agradecimento, como se o próprio bolo não chegasse. Infelizmente com o passar do tempo o brinde passou a ser um pequeno objeto metálico sem outro valor que não o do símbolo e pouco evidente para a maioria das pessoas. Como não bastassem, as leis comunitárias ditaram o fim da tradição, proibindo que no interior do bolo se encontre uma fava ou um brinde.


Mesmo assim o Bolo Rei continua a ser um símbolo da época Natalícia, e hoje os confeiteiros e pasteleiros não se poupam a esforços na sua promoção, por isso se enchem de clientes para adquirir o rei das iguarias nesta quadra festiva, O Bolo Rei não se limita a ser um bolo com gosto agradável, ele é na verdade um verdadeiro símbolo desta época.
 Depois desta história, que tal fazer um e provar uma fatia?

BOLO-REI

4 1/2 xíc. (chá) de farinha de trigo
2 tabletes de fermento biológico
1 xíc. (chá) de açúcar
4 colh. (sopa) de leite
1/2 xíc. (chá) de azeite de oliva
5 ovos
3 colh. (sopa) de vinho do Porto
2 colh. (sopa) de casca de laranja ralada
1/2 xíc. (chá) de azeite de oliva
1/2 xíc. (chá) de uva-passa sem sementes.
4 colh. (sopa) de amêndoas picadas
4 colh. (sopa) de nozes picadas
1 xíc. ( chá) de frutas cristalizadas
100 gramas de cerejas
4 colh. (sopa) de açúcar confeiteiro

Em uma tigela, peneire a farinha de trigo e reserve. Em outra, misture o fermento e 3 colheres de sopa de açúcar até obter uma pasta. Misture o leite aquecido e 4 colh. (sopa)de farinha de trigo . Cubra com filme plástico e deixe crescer por 15 minutos. Em outro recipiente, coloque 4 ovos, o vinho do Porto e as raspas de laranja e bata ràpidamente com um batedor manual. Reserve. Em uma superfície lisa, coloque a farinha de trigo restante e faça uma cova uma cavidade no centro. Junte o azeite de oliva (reserve 1/2 colher de sopa) e o açúcar restante. Com a ponta dos dedos, misture até obter uma farofa. Acrescente a massa crescida e mistu-
re. Aos poucos, junte os ovos batidos e sove a massa por 5 minutos. Adicione as uvas passas, as amêndoas, as nozes e metade das frutas cristalizadas. Misture delicadamente e transfira a massa para uma tigela. Cubra com filme plástico e deixe crescer por 1 hora. Em seguida, modele a massa, formando um anel. Transfira a massa para uma assadeira de pizza com 30 cm de diâmetro, untada com o azeite reservado.Deixe crescer por mais 30 minutos. Ligue o forno à temperatura média. Distribua sobre a massa o restante das frutas cristalizadas e as cerejas. Pressione ligeiramente com os dedos e pincele toda a superfície com o ovo batido. Leve o bolo ao forno por aproximadamente 40 minutos. Retire do forno, desenforme ainda morno e disponha em um prato grande. Em seguida, distribua por cima o açúcar confeiteiro em montinhos, se preferir, no momento de servir coloque fios de ovos na parte central do bolo.

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